Claudio Cardoso e Francisco Perez | abril 2023
Transformações relevantes no horizonte: é hora de protagonizar mudanças e tirar proveito do poder da sua marca
Quando foi inventado o Compact Disc (CD), em 1982, a Enciclopédia Britânica nem sonhava em entregar as suas edições em outra mídia que não fosse o papel. Afinal, os lindos volumes impressos orgulhavam quaisquer estantes das residências em praticamente todo o planeta.
Três décadas depois, em 2012, Jorge Aguilar-Cauz, presidente da Britânica até os dias atuais, chamou a atenção do mundo ao anunciar que a tradicional empresa de 244 anos deixaria de imprimir livros. A icônica editora passaria a ser totalmente digital a partir daquela data.
De lá para cá a Britânica só cresceu. Realizou uma bem-sucedida transição no modelo de negócio e hoje atende online mais da metade das 112 mil escolas de ensino básico nos Estados Unidos, somente para mencionar o segmento de maior destaque em seu portfólio. Segundo Cauz, a decisão, que na época pareceu radical, foi o ápice de uma mudança estratégica planejada 35 anos antes.
Essa empresa, mais antiga do que qualquer uma das brasileiras, foi capaz de perceber com rapidez o chão que se movia sob seus pés, para logo redefinir objetivos e empreender uma profunda transformação sem perder sua essência e tradição. E continuar fazendo o que sabia fazer melhor do que ninguém: levar conhecimento aos jovens estudantes e professores de todo o mundo.
Desde então, e cada vez mais, vivemos uma forte efervescência tecnológica, em boa parte impulsionada pelo acirramento das disputas competitivas entre blocos políticos e comerciais. Nesses momentos da história costuma-se despejar grandes somas em pesquisa e inovação.
Antagonismos similares do passado aceleraram, por exemplo, o desenvolvimento aeroespacial que, por sua vez, acabou criando o GPS, a telecomunicação global e muitas outras tecnologias. Hoje, temos na pauta a inteligência artificial, as novas fontes de energia, chips eletrônicos ainda mais poderosos, a mobilidade autônoma, tudo isso em um mundo hiper conectado por redes de alta velocidade e tornado disponível na nuvem.
O fato é que o imenso volume de recursos investidos se reverte em novas oportunidades para aqueles que, como a Britânica, são capazes de compreender que é preciso efetuar mudanças importantes e redesenhar estratégias. O que vemos por ora é uma dramática mudança no comportamento da sociedade (e do consumidor), ao mesmo tempo que avançam exponencialmente as potencialidades tecnológicas.
Em contextos disruptivos muitos tomam como certa a morte das empresas tradicionais. Contudo, na verdade, existe uma enorme demanda silenciosa que pede o contrário: em tempos de incerteza, o que mais precisamos é de solidez, confiança e tradição. Basta ver para onde correu o dinheiro na recente quebra do Silicon Valley Bank: antigos correntistas correram, em sua grande maioria, para os grandes bancos tradicionais. Justamente em busca de segurança.
Empresas atentas aos novos paradigmas tecnológicos devem abraçar com urgência novos processos e ferramentas capazes de apoiar a transformação necessária ao negócio. Por isso, é hora de agir rápido e vestir a camisa de protagonistas da evolução, ao invés de espectadores passivos diante do desastre. Tudo indica que a mudança virá e será ainda mais radical.
Por outro lado, é preciso perceber que existe espaço para organizações da “velha economia” tirarem proveitos de suas marcas já bem consolidadas, e associarem os seus sólidos valores à inovação. Desde que se habilitem de forma bem estruturada para atuar na “nova economia”.
Nesta direção, a assimilação de três princípios parece decisiva. O primeiro, compreender os novos rumos, traçar caminhos e liderar a transformação do negócio, dia após dia; o segundo, criar plataformas de apoio à transformação necessária à organização, e valorizá-las; por último, adotar e difundir com o máximo empenho o mantra da mudança: pequenos movimentos, feitos de forma estratégica, geram grandes impactos.