Claudio Cardoso, Francisco Perez e Lucas Marcomini | Junho 2024
A força do novo cenário justifica a criação de uma área de negócio dedicada a criar e extrair valor das novas dinâmicas empresariais baseadas em tecnologias e dados
Nos últimos anos, a economia global tem testemunhado uma transformação radical impulsionada por tecnologia e pelo uso intensivo de dados. O novo paradigma econômico, frequentemente chamado de nova economia, caracteriza-se pela crescente demanda por alta conveniência, eficiência e rapidez pelos consumidores.
Empresas nesse contexto são cada vez mais digitais, conectadas e abertas, enfatizam o desenvolvimento de serviços, competem de forma mais ágil e flexível, e adotam modelos de negócios inovadores com potencial de crescimento exponencial. Tudo isso com máximo empenho em proporcionar altos níveis de satisfação na experiência do cliente. Atualmente, sete entre dez das empresas mais valiosas do ranking mundial pertencem a esta categoria.
Reconhecendo as mudanças, bancos tradicionais começam a estruturar áreas de negócios dedicadas a atender e atuar em parceria com empresas da nova economia. Neste breve artigo refletimos sobre a importância, os desafios e as estratégias para a implementação de verticais de negócio especializadas em gerar e extrair valor dessas novas dinâmicas econômicas.
Essa nova área especializada com potencial para acessar oportunidades significativas, ainda pouco assimilada pela maioria das empresas, é a responsável por trazer as lógicas da nova economia para o interior da organização e levar o valor gerado até os seus clientes corporativos.
Nova Economia: características e desafios
Mencionada de forma pioneira em um artigo de capa na revista Time em 1983, a nova economia é definida por algumas características distintas:
Modelos de Negócios Ágeis e Exponenciais: startups e empresas de tecnologia desafiam as normas tradicionais com modelos de negócios mais ágeis, flexíveis e escaláveis que, atuando em conjunto, proporcionam crescimento rápido e adaptação às mudanças do mercado.
Uso Intensivo de Tecnologia e Dados: a tecnologia está no cerne das operações e das inovações. Empresas utilizam processamento computacional em todos os níveis, inteligência artificial, análise de dados e muita automação para otimizar processos e oferecer soluções inovadoras. Ao mesmo tempo, um velho clichê ainda parece válido: dados seguem sendo o novo petróleo. Empresas da nova economia coletam, analisam e utilizam grandes volumes de dados para tomar decisões bem-informadas e para personalizar ofertas.
Implementação de uma Área de Negócio dedicada à Nova Economia
Nos últimos meses temos publicado artigos que apresentam a estruturação de programas dedicados à realização de negócios com a nova economia. Particularmente, dois artigos recentes trazem o nosso Flywheel da Transformação e contam por onde começar a implementação de verticais de negócios dedicadas ao novo cenário. Neste ponto recomendamos a leitura de Além do Básico: a Empresa no Ecossistema e A Empresa no Ecossistema: por onde começar. A propósito, no presente texto utilizamos os termos área de negócio e vertical de modo intercambiável.
Em sua longa tradição de adaptação aos desafios de cada momento histórico, bancos seguem ligados às adequações necessárias ao contexto atual. Por isso, a criação de uma área especializada representa mais um passo oportuno para atender às recentes demandas. A nova vertical tem em seu núcleo um ecossistema de startups (e outras iniciativas inovadoras) construído em torno da estratégia empresarial. É o diálogo próximo e direto com esse ecossistema que vai trazer insights, acelerar e dar sustentação a parte relevante do desenvolvimento de novas abordagens para o mercado.
Não deixa de ser um bom desafio explicar a função, o alcance e a organização desta nova área. A expressão programa de inovação tornou-se tão onipresente e de amplo domínio que rapidamente é atribuída às iniciativas que interagem com startups. Contudo, a melhor forma de compreender a nossa abordagem é vê-la como um centro de negócios conectado ao ecossistema. Este centro é movido pela crença de que a nova economia, em toda a sua dinâmica e complexidade, é rota do mais alto potencial. Basta averiguar quais empresas lideram os atuais rankings no mundo e, crescentemente, no Brasil.
Essencialmente, a nova área de negócio deve operar oportunidades criadas pela nova economia, seja por meio da (i) oferta de serviços financeiros, seja pela (ii) originação de parcerias com alto potencial. Em relação às parcerias com grandes corporações, a vertical pode aportar tecnologias inovadoras para (iii) habilitar novos modelos de negócio desses clientes, além de (iv) entregar o valor gerado pelo próprio ecossistema. Como ambição, a vertical mira ocupar a posição de melhor parceiro financeiro para iniciativas da economia da inovação, desde os estágios iniciais até a realização de IPOs.
Aproveitamos para destacar alguns aspectos relevantes para a implementação da área de negócio.
Estrutura e Organização
O maior desafio da vertical reside em sua execução, mesmo que a compreensão de sua necessidade pareça instigante a princípio. Por isso, a composição da equipe executiva deve ser pautada pela atração de talentos já conectados ao ambiente da nova economia, preferencialmente reconhecidos pela comunidade. Assim, a área de negócios deve contar com uma equipe multidisciplinar, incluindo analistas de negócios vocacionados ao diálogo com o ecossistema e estrategistas de mercado, comunicação e marketing focados no posicionamento da marca para o ecossistema. A estrutura organizacional deve ser enxuta e ágil, permitindo rápida tomada de decisões e adaptação veloz às mudanças do mercado.
Criação e Posicionamento da Marca para o Ecossistema
É preciso estabelecer conexões com os novos dialetos e as novas lógicas de negócio quando se trata do ecossistema da nova economia. Neste ponto, a marca patrocinadora empresta a sua reputação à iniciativa que busca fluência e proximidade com os atores nativos do ecossistema. Nada melhor do que criar um cartão de visitas que já nasce falando a língua das startups e da inovação tendo como pano de fundo uma marca de alto prestígio. Por este motivo adotamos há três anos a marca Alfa Collab com sucesso, uma vez que, ao mesmo tempo, operou como identidade alinhada à cultura do ecossistema e desfrutou da tradição e da credibilidade do Banco Alfa.
Estabelecimento de Diálogos Estratégicos
A colaboração com fintechs, outras startups e empresas de base tecnológica pode fornecer aos bancos acesso a tecnologias emergentes, modelos de negócio inéditos e práticas inovadoras. Parcerias estratégicas permitem que incumbentes complementem as suas capacidades internas e ofereçam soluções ainda mais robustas e diversificadas.
Integração dos Clientes Corporativos à Nova Economia
Em forte colaboração com áreas dedicadas a parcerias, a vertical concentra valores capazes de transformar os negócios dos clientes. E aqui reside a sua mais preciosa contribuição: levar a nova economia ao cliente, em toda a sua dinâmica e complexidade. Uma nova realidade que confiamos ser a rota de maior potencial para identificar oportunidades e cocriar modelo de negócio vencedores.
Desenvolvimento de Produtos e Serviços Inovadores
A vertical também apoia programas de inovação por meio de um ecossistema com alta capacidade para o desenvolvimento de produtos e serviços que atendem às demandas específicas da nova economia. Isso inclui, dentre outros:
- Serviços Bancários Digitais: plataformas digitais que oferecem experiência bancária integrada e conveniente.
- Financiamento e Investimentos Personalizados: soluções financeiras especializadas, tais como Venture Debt, operações estruturadas, mercado de capitais e outras linhas adequadas aos interesses e características das startups.
- Soluções de Pagamento Inovadoras: métodos de pagamento que utilizam tecnologias emergentes como blockchain e criptomoedas.
Apoio à Cultura de Inovação e Experimentação
Apoio à Cultura de Inovação e ExperimentaçãoPromover a cultura da nova economia dentro de um banco tradicional é tarefa sofisticada e sensível, porém essencial nos dias que correm. A vertical apoia a assimilação de metodologias ágeis, dinâmicas e flexíveis, tais como, por exemplo, o apoio à criação de laboratórios, onde ideias podem ser testadas rapidamente; além da implementação de práticas de inovação aberta, com incentivo à contribuição de ideias em toda a organização.
A criação de uma área de negócio especializada para a nova economia em um banco não é apenas uma necessidade, mas uma oportunidade estratégica para alavancar novos negócios, além de obter crescimento, ampliação de margens nos resultados, transformação digital e cultural, e ainda conquistar mais relevância concorrencial.
Ao adotar abordagens centradas no cliente por meio de parcerias estratégicas e habilitadas por tecnologia e uso de dados, incumbentes aumentam o potencial de prosperar na nova economia. É uma jornada que exige visão e disposição contínua para colaborar com os novos atores, se adaptar às rápidas mudanças e, acima de tudo, renovar a ambição para ocupar a posição de liderança neste mercado promissor.
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