Francisco Perez | Alfa Collab | Março 2023
Adaptação de trecho da entrevista cedida à Distrito em setembro de 2021 e publicada no artigo “Histórico do venture capital no Brasil: do surgimento até hoje” em 17 de outubro de 2021
Para Francisco Perez, fundador da Inseed Investimentos e atual diretor de novos negócios, responsável pelo hub de inovação Alfa Collab e pela área de ESG do Banco Alfa, a história do capital de risco no Brasil pode ser dividida em três ciclos. O primeiro ocorreu na década de 2000, quando os investidores apenas começavam a assimilar os empreendimentos de inovação tecnológica e a cultura das startups.
No início do século, o estouro da bolha das empresas de internet ainda pairava sobre a cabeça de executivos do mundo todo. Embora os negócios digitais apresentassem excelentes perspectivas de crescimento e retorno, ficava claro que eles precisariam da mesma consistência das organizações tradicionais para ter sucesso.
Nessa época, muito por causa dos ganhos originados pela venda de commodities agrícolas, o Brasil atravessava um momento de relativa prosperidade econômica. Não obstante o cenário favorável, o investidor brasileiro ainda pouco se entusiasmava com o universo do capital de risco. Ao mesmo tempo, as gestoras privadas enfrentavam enormes dificuldades burocráticas para captar recursos. Assim é que o primeiro ciclo do venture capital no Brasil foi conduzido por investidores institucionais, principalmente por fundos de pensão e órgãos de fomento.
Perez também aponta que o próprio perfil do empreendedor brasileiro era então bem diferente daquele que surgiria na década seguinte, a de 2010: ‘Nessa primeira safra, eram raros os empreendedores típicos do mundo do venture capital. A comunidade era muito condicionada pelo ambiente econômico do país, e não se encontrava com a facilidade de hoje aquele empreendedor por natureza, com o comportamento adequado para liderar startups.’
O segundo ciclo acontece entre 2010 e 2020. Nessa fase bem-sucedida, surgem os primeiros unicórnios brasileiros, inúmeros hubs de inovação aberta, projetos de apoio ao desenvolvimento do ecossistema e os programas de corporate venture capital, conduzidos por grandes empresas ansiosas para iniciar sua jornada de transformação digital. Também ganharam força nessa fase o investidor pessoa física e o crowdfunding, o financiamento coletivo de startups.
Os eventos de liquidez, ou exits, se tornaram mais frequentes no mercado, levando muitos investidores a reaplicar o dinheiro adquirido em outras empresas emergentes em busca de novos ganhos. Não menos importante, os estudos com dados e informações sobre o ecossistema nacional de inovação começaram a aparecer e deixar o cenário mais transparente e atrativo para os investimentos em startups.
Por fim, o terceiro ciclo, que teve início nesta década de 2020, já começa com uma cultura de empreendedorismo bastante difundida entre os jovens fundadores de startups e uma verdadeira pressão competitiva para que as corporações tradicionais inovem através da tecnologia. Além de uma quantidade recorde de novos investidores dispostos aos ativos de risco — sinal de que a expectativa e a confiança em relação às techs brasileiras só aumenta.
Fonte: https://distrito.me/blog/historico-do-venture-capital-no-brasil/