Claudio Cardoso e Francisco Perez | Agosto 2024
Quais os benefícios para grandes corporações contarem com a ajuda de startups na criação de novos modelos de negócio?
Apesar do prestígio em baixa nos últimos meses, muito por conta da crise global do capital de risco, startups e outras iniciativas da nova economia já conquistaram uma posição de destaque na colaboração com grandes corporações para o impulsionamento da inovação empresarial.
Nesta direção, não restam muitas dúvidas. Inovação é fator chave para o sucesso empresarial. Grandes corporações têm buscado obstinadamente por novos arranjos para se manterem competitivas e relevantes no atual mercado em efervescente evolução. Uma estratégia cada vez mais adotada pelas organizações de grande porte é a parceria com startups para a criação de novos modelos de negócio. Mas, por que essa parceria tem sido tão benéfica?
Startups são reconhecidas pela capacidade de inovar rapidamente e surpreender com soluções criativas. Ao colaborar com elas, grandes corporações tiram proveito da mentalidade empreendedora para desenvolver e implementar novas ideias de forma ágil, superando a burocracia que muitas vezes retarda a inovação dentro de estruturas corporativas tradicionais.
Ao mesmo tempo, startups frequentemente trabalham com tecnologias emergentes e tendências de mercado que as grandes corporações podem não estar totalmente familiarizadas. Ou, por não terem agilidade suficiente para validá-las dentro dos rigores corporativos a tempo de se manterem permanentemente no estado-da-arte. Ao se associarem a essas startups, grandes corporações podem ter acesso a tecnologias de ponta, permitindo-lhes incorporar inovações disruptivas em seus modelos de negócio já existentes.
Adicionalmente, pode-se tirar proveito da maior flexibilidade e adaptabilidade das pequenas iniciativas inovadoras. Startups geralmente operam em ambientes de incerteza e estão acostumadas a se adaptarem rapidamente às mudanças. Tal mentalidade é altamente valiosa para empresas de grande porte que buscam se manter ágeis nos mercados em constante transformação. A colaboração com startups pode ajudar as corporações a cultivarem uma cultura de flexibilidade e adaptabilidade dentro de suas próprias estruturas.
Merece destaque a expansão do ecossistema empresarial, talvez a maior vantagem a médio prazo. A colaboração entre grandes corporações e startups não apenas beneficia as próprias empresas envolvidas, mas também contribui para o crescimento e o fortalecimento do ecossistema empresarial como um todo. Essas parcerias criam oportunidades para a troca de conhecimento, de recursos e de melhores práticas, impulsionando a inovação em toda a linha da indústria.
O convívio com pequenos empreendimentos promove aceleração do processo de inovação pela reunião de diferentes qualidades. De um lado, as corporações fornecem recursos, expertise e acesso ao mercado, enquanto, do outro, as startups trazem novas ideias, agilidade e energia empreendedora. Dessa combinação de forças muitas vezes resultam soluções inovadoras levadas mais rapidamente ao mercado do que seria possível de outra forma.
Uma boa ilustração deste potencial positivo para a geração de novos modelos de negócio vem do acoplamento das fintechs às instituições financeiras, quando essas startups analisam o risco de crédito em nichos específicos, de uma forma bem mais apurada e bem mais rápida do que os incumbentes jamais conseguiriam a curto ou médio prazo. Esta capacidade diferenciada oferece inúmeras alternativas para que bancos lancem novas linhas de empréstimos, inclusive em segmentos para os quais dificilmente disponibilizariam recursos a partir dos seus modelos tradicionais de análise.
Concluímos com um exemplo clássico e fascinante. A Red Hat é uma empresa de software em código aberto que começou como startup nos anos 90. A iniciativa desenvolveu uma versão comercial do sistema operacional Linux. Enquanto isso, a IBM, uma gigante da tecnologia, estava à época buscando maneiras de expandir seus negócios para o mercado open source. Em 2019, a IBM adquiriu a Red Hat por cerca de US$ 34 bilhões. A aquisição representou um movimento estratégico da IBM para impulsionar a sua presença no mercado de computação em nuvem e em software de código aberto.
A Red Hat ajudou a IBM não apenas a abraçar a mentalidade de código aberto, mas a desenvolver novas estratégias de negócios. Com a experiência e a tecnologia da Red Hat, a IBM foi capaz de criar toda uma linha de novos negócios centrados na computação em nuvem e em soluções open source. Essa parceria resultou em um modelo de negócio altamente bem-sucedido para ambas as empresas.