Claudio Cardoso e Francisco Perez | Julho 2024
A jornada empresarial pela inovação requer conversações internas para a formulação de estratégias e objetivos empresariais, e externas para a construção de relacionamentos com o ecossistema
Não é à toa que empresas tradicionais e bem-conhecidas criam marcas quando decidem mergulhar no universo da inovação. No Brasil temos iniciativas como o Cubo do Itaú, o Boostlab do BTG, o Habitat do Bradesco e o nosso Alfa Collab, somente para mencionar programas criados por bancos. O motivo para isso é, na verdade, muito simples: é preciso estabelecer conexões com novos dialetos e novas lógicas de negócio quando se trata do ecossistema da nova economia. Em apoio, as marcas tradicionais emprestam a sua reputação às novas iniciativas que buscam fluência e proximidade com os atores nativos desse ecossistema. Assim, nada melhor do que criar um cartão de visitas que já nasce falando a língua das startups e da inovação.
Entre aqueles mais experientes no universo da nova economia – dentre eles, investidores de venture capital e líderes de programas bem-estabelecidos – parece haver consenso de que a inovação exige a ampliação da capacidade de diálogo da organização. Primeiro, internamente, quando lideranças precisam identificar necessidade empresariais e definir as suas estratégias de inovação. Este é um desafio que requer conversas entre vários setores, com debates e consideração das mais diversas visões e expectativas.
Por outro lado, a capacidade de inovar e surpreender competidores é potencializada por conversações com o ecossistema de inovação. Esta é a base da dimensão externa do diálogo pela inovação. Para isso acontecer, é preciso adquirir fluência em novos dialetos e em novas lógicas de negócio.
Em busca por diferenciação pode ser tentador manter-se em espaços conhecidos e já bem dominados. Por exemplo, se a sua empresa é um banco, todos os caminhos levam às fintechs para com elas identificar o que está por vir e inovar por meio de aquisições. Contudo, este é o caminho também trilhado pelos concorrentes. Por isso, talvez mais seja interessante “olhar para os lados e para as bordas do cenário”. Assim, é fundamental desenvolver a capacidade de estabelecer novas conexões, algumas delas em universos até então desconhecidos e, aparentemente, distantes.
Autores como Peter Senge, Clayton Christensen, Eric von Hippel e Henry Chesbrough estão entre aqueles que destacam o diálogo como um dos principais pilares para o desenvolvimento da capacidade de inovar e criar valor em ambientes altamente competitivos.
Expansão das fronteiras internas e externas
A inovação é muito mais do que a simples introdução de novas ideias ou tecnologias em uma empresa. Ela é um processo complexo que exige ampliação significativa da capacidade de dialogar, tanto interna quanto externamente. Tal diálogo é essencial para o desenvolvimento e a implementação eficaz de estratégias de inovação que consigam impulsionar a organização rumo ao sucesso em um mercado cada vez mais competitivo e dinâmico.
Internamente, a capacidade de inovação de uma empresa começa pelo diálogo entre diferentes setores e áreas de expertise. Identificar as estratégias de inovação requer não apenas brainstorming, mas também discussões profundas que envolvem a articulação de diversas experiências e necessidades. Essa troca de informações e perspectivas permite uma compreensão mais abrangente dos desafios e oportunidades que a empresa enfrenta, além de promover sinergia entre os diferentes departamentos.
Contudo, o diálogo pela inovação não se limita aos muros da organização. É essencial estender essa capacidade de interagir para além de suas fronteiras, engajando-se com o ecossistema da nova economia. E sempre incluindo os clientes nesta jornada, além dos novos parceiros comerciais, fornecedores, startups e outros atores relevantes do mercado. Ao se conectar com o ecossistema, a empresa consegue acessar novas ideias, tecnologias e oportunidades de negócios que podem impulsionar sua inovação de maneiras inesperadas.
Especialmente, a conexão com o ecossistema cria infinitas possibilidades de negócio. Neste ponto, a empresa passa a desempenhar o altamente promissor papel de broker entre a capacidade de geração de novos negócios que emergem da combinação do encontro entre grandes corporações clientes, startups e outros players do ecossistema. Neste ponto, recomendamos a leitura do nosso artigo Sinergia entre Grandes Corporações e Startups.
No entanto, para realmente se destacar a partir dos diálogos externos é necessário mais do que simplesmente estabelecer contatos. É preciso adquirir domínio da cultura inovadora e dos novos jogos de negócio do ecossistema. Isso significa estar aberto a aprender com atores outrora desconsiderados, além de se adaptar rapidamente a mudanças a partir de uma mentalidade ágil e receptiva a novas tendências e demandas. Ao ampliar suas capacidades de conversação, as empresas podem não apenas identificar e implementar estratégias de inovação mais eficazes, mas também se posicionar de forma mais competitiva em um mercado em constante evolução. O diálogo pela inovação não é apenas uma necessidade, mas um imperativo para o sucesso sustentável.
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