Claudio Cardoso | Alfa Collab | outubro 2020
Ao mesmo tempo, Fintechs ameaçam modelos tradicionais e enriquecem o sistema financeiro
De forma recorrente temos lido nos últimos anos matérias em jornais e pequenos artigos publicados na internet sobre as vantagens das Fintechs para os usuários, quase sempre relacionadas à ameaça que representam para os modelos tradicionais do sistema financeiro. O público em geral tem raras oportunidades de ser convidado a refletir sobre os inúmeros benefícios que o movimento de inovação de base tecnológica tem trazido para o setor financeiro como um todo.
Fintechs proporcionam uma nova posição de protagonismo aos consumidores em relação aos bancos. Temos sido muito mais estimulados a assumir a responsabilidade pelas nossas decisões financeiras, à medida em que acessamos mais informações de melhor qualidade. Somos cada vez mais educados – pode-se dizer, mais ‘alfabetizados’ – para o mundo dos investimentos e da gestão financeira.
Por volta do segundo semestre de 2010, há apenas dez anos, grandes bancos em todo o mundo começaram a perceber com mais clareza a ameaça emergente das Fintechs. Surgiram em série startups desse segmento desde então, algumas com enorme sucesso empresarial, alternando inovações significativas em novos modelos de negócio e em domínio tecnológico de ponta, tais como N26 e Nubank (2013), Revolut e Stone (2014), Monzo (2015), C6 Bank (2018), e a disrupção da XP Investimentos no Brasil, em torno de 2016. Somente para citar algumas.
O fato é que o medo de perder clientes e reduzir a participação no mercado aumentaram entre as instituições bancárias. E o sistema reagiu, não apenas investindo em modelos inovadores, mas também se preparando para competir em novas bases tecnológicas, mais abertas e inclusivas. Fintechs impulsionaram movimentos pela melhoria do desempenho e da lucratividade em todo o setor.
O setor bancário se moveu e passou a perceber as Fintechs não apenas como concorrentes, mas também como atores importantes para a renovação e evolução do sistema financeiro. Afinal de contas, o cliente é cada vez mais digital e é preciso aprimorar a experiência do consumidor.
Quando bancos e cooperativas de crédito passaram a enxergar as Fintechs como parceiras de jornada, as oportunidades começaram a se expandir. Soluções desenvolvidas por Fintech indicam ao mercado novas maneiras de conquistar e de reter os clientes. Além disso, elas trouxeram a questão dos dados para o centro da indústria. Sem falar na utilização de modelos mais abertos para as rigorosíssimas arquiteturas de sistemas de informação do setor, que tradicionalmente privilegiou segurança em detrimento da agilidade para criar e lançar produtos mais atrativos e mais eficientes.
O novo mundo da inovação no setor financeiro
O imenso mercado de oportunidades inaugurado pelo advento das Fintechs veio para ficar. Dados coletados e analisados por elas podem fornecer às instituições financeiras uma visão mais detalhada do que os clientes estão fazendo e desejam fazer com seu dinheiro. O enriquecimento dos dados é uma estrada que pode ser trilhada em parceria. O poder do Cloud usufruído com mais assertividade pelas Fintechs é outro caminho para a entrega de novos produtos e serviços feitos sob medida para clientes individuais em tempo real que vem sendo incorporado por grandes bancos.
Algumas Fintechs oferecem novas oportunidades para aumentar a diversificação da carteira de empréstimos, uma vez que têm capacidade para personalizar serviços para cada cliente. Atuando com esta visão, é bem mais provável que ofereçam aos consumidores os produtos exatos que precisam, e quando precisam. E os empreendimentos tradicionais do setor aprendem com isso.
Eventuais parcerias com Fintechs podem ajudar a resolver problemas específicos, tanto em segurança digital, como em transferências de valores, na realização de empréstimos com maior agilidade e menor risco, ou na proteção das transações de crédito.
Organizações financeiras tradicionais mais abertas ao novo e com maior prontidão para incorporar inovações podem se beneficiar da grande alavancagem provocada pelas Fintechs. Particularmente, podem se beneficiar nos serviços em rede, operando de forma mais segura e contando com as facilidades proporcionadas por tecnologias de última geração para criar e implementar entregas mais competitivas, com maior rapidez e menor investimento.