Claudio Cardoso | Alfa Collab | agosto 2022
Cientista de dados é a profissão mais sexy do século XXI. Não que eu concorde tão gratuitamente com esta afirmação, mas, por via das dúvidas, é sempre bom ouvir o que diz Thomas Davenport, autor do célebre “A Ecologia da Informação” de 1997, um papa quando o assunto é análise de dados e gestão do conhecimento. A frase é dele.
Esses profissionais usam seus conhecimentos e habilidades para analisar e correlacionar informações em bases de dados, geralmente bastante numerosas, e delas extrair descobertas surpreendentes para alegria dos seus clientes, sejam eles um banco, um grupo de pesquisa científica, ou uma agência de comunicação.
Dentre suas competências estão a análise e a gestão de bancos de dados – atividade que inclui a organização, classificação e qualificação das informações – o domínio de softwares especialistas (são muitos), o desenvolvimento de modelos estatísticos e de algoritmos capazes de interpretar correlações e também aprender, além de grande capacidade para comunicar suas descobertas.
Um campeão deste mundo foi Hans Rosling, médico sueco, falecido precocemente no início de 2017 aos 68 anos, criador da Gapminder Foundation, onde foi desenvolvido o software Trendalyzer. Dentre muitas contribuições, sua forma de demonstrar análises sofisticadas de modo lúdico e simples se tornaram fonte de inspiração para cientistas e amantes da boa informação em todo o mundo. Suas apresentações no TED explicam de forma sucinta e prática o que faz um cientista de dados, no seu melhor.
Para completar o cenário promissor, a empresa de consultorias McKinsey, previa desde 2017 um déficit de 1,5 milhão em postos de trabalho destes profissionais. A previsão se mantém desde então em torno deste mesmo número. A atividade não é nova. Antes desempenhada pelos desvalorizados e muitas vezes incompreendidos, estatísticos, eles ganham cada vez mais relevância na indústria da comunicação. Há quem diga que toda a comunicação um dia (e em muito breve) será inteiramente baseada em dados dos perfis de leitores, consumidores e todas as demais categorias a quem são endereçadas suas ações.
Mas, o que faz um cientista de dados nos departamentos de comunicação das empresas, ou em agências de relações públicas ou publicidade? Eles são a ponte que sempre faltou entre os dois mundos, pois concretizam o valor da tecnologia para o mundo da comunicação. A razão para isso é muito simples. No mundo digital, onde bilhões de transações de todos os tipos são registradas todos os dias, este profissional realiza o mais antigo e valioso sonho de qualquer comunicador: identificar com o máximo de informações quem é o target, seja um segmento, uma comunidade ou um indivíduo.
Com os recursos hoje disponíveis, pode-se descobrir com boa precisão quais as preferências de uma pessoa, onde ela se encontra neste exato instante, onde almoçou, onde abastece o carro, onde vive, qual o seu estado civil, o que pensa sobre política, qual esporte pratica, quantos filhos tem, e uma infinidade de outras informações cruciais. Com direito a testar suas escolhas e ainda refinar a comunicação em tempo real, enviando um anúncio ainda mais efetivo que o anterior que não recebeu tanta atenção.
Há quem veja nisso tudo o fim da privacidade. Análises de dados das mídias sociais facilitam a identificação de consumidores com mais alto potencial para se tornarem clientes. O tema da privacidade e do uso das informações pessoais merece ampla e profunda discussão, tendo em perspectiva novas medidas legais que protejam cidadãos e empresas, pela concorrência leal.
Contudo, mesmo diante de exemplo tão contundente, sempre me pergunto onde estão os cientistas de dados nos departamentos de comunicação e nas agências de publicidade ou relações públicas. Ainda me surpreendo com a ausência deles na maioria das visitas aos colegas. Por outro lado, Fintechs e outras estão povoadas por esses profissionais que fazem toda a diferença. Acontece que o salário dessa turma só vem aumentando. Talvez seja sábio contratá-los o quanto antes.
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Este artigo é uma atualização de “O discreto charme dos estatísticos”, do mesmo autor, publicado em 20 de abril de 2017 no Portal Aberje