Lucas Marcomini | Open Finance | Alfa Collab | fevereiro 2023
Será que indivíduos e empresas estão satisfeitos com as soluções disponíveis?
A última década foi marcada pelo surgimento e crescimento das fintechs, empresas que utilizam tecnologia para entregar produtos e serviços financeiros aos seus clientes. Os fatores que contribuíram para esse movimento do mercado são vários, mas podemos focar em três principais:
- A democratização do acesso à infraestrutura tecnológica a partir da oferta de serviços de computação em nuvem;
- Taxas de juros historicamente baixas que levaram o investidor a tomar mais risco em busca de maiores retornos, trazendo mais recursos para indústria de Venture Capital; e,
- O movimento de unbundling, onde os novos entrantes atacavam um produto ou serviço específico utilizando tecnologia, para trazer melhores experiencias aos clientes de bancos tradicionais.
Seria esperado que, hoje, o mercado bancário fosse radicalmente diferente do que era. Contudo, grande parte dos antigos problemas persistem: custo alto de crédito, fraudes e dificuldades no relacionamento. As fintechs que conseguiram crescer são, hoje, muito semelhantes aos bancos contra os quais nasceram para competir.
Parte dos motivos para que esta seja a nova realidade decorre de movimentos dos próprios incumbentes que, por sua vez, não ficaram parados. Outra grande parcela dos motivos vem das próprias fintechs. Mais precisamente, da maneira como elas lidaram com o movimento de rebundling, quando passaram a oferecer novos produtos e serviços em busca de se tornarem o one stop shop para as necessidades financeiras dos seus clientes. Curiosamente, a abordagem utilizada foi aquela mais tradicional possível, mantendo o foco no produto e na maneira mais eficiente de vendê-lo.
Foi possível observar várias novidades, especialmente em relação à cobrança de tarifas por serviços básicos, tais como na abertura de contas, com destaque para o aumento relativo da concorrência entre instituições financeiras. Antes havia muito poucos players neste mercado. Porém, os produtos financeiros são praticamente os mesmos de vinte anos atrás. Hoje o que temos é uma infinidade de opções em produtos de pagamento, de crédito e de investimento, mas será que indivíduos e empresas estão satisfeitos com as soluções disponíveis? Me parece que as pessoas estão, na verdade, ainda mais confusas com o excesso de ofertas de produtos que não se diferenciam. Você já tentou escolher um cartão de crédito, ou pior, um plano de previdência?
Com o volume de dados e de ferramentas disponíveis para o entendimento das necessidades dos clientes, parece-me surpreendente o estado atual do setor. Muito se diz que o Open Finance vai revolucionar esse cenário, mas se a abordagem de construção de produtos continuar focada em como vendê-los, pouca coisa irá mudar. É a velha ótica da “solução procurando por um problema”.
Há vários exemplos de fintechs que entendem, de fato, as necessidades dos clientes e usam produtos e serviços financeiros como ferramentas para a entrega de valor. Um exemplo que gosto muito é o da Cumbuca, que busca resolver as dores da divisão de contas e pagamentos entre pessoas abordando a conta conjunta de uma maneira inovadora. Outro exemplo é o da Slice, fintech que faz parte do programa Alfa Collab e busca resolver as dores das empresas na movimentação de dinheiro, entendendo que receber um pagamento é apenas a ponta do iceberg.
Embora soluções específicas possam ter um mercado potencialmente menor do que soluções mais genéricas, as primeiras possuem vantagens claras na criação de valor para seus clientes. São empresas que se tornam referência e que serão defendidas pelos seus usuários, além do que, com uma estratégia bem executada poderão trilhar caminhos mais sólidos na geração de resultados e de crescimento sustentável para seus negócios.