Claudio Cardoso e Francisco Perez | Alfa Collab | Junho 2023
Empresas que se lançaram pelos caminhos desbravados pela tecnologia venceram de forma espetacular
Em 1987, Robert Solow, logo que laureado com o Prêmio Nobel de Economia, lançou uma provocação direta aos entusiastas da adoção de tecnologias de informação com uma frase que se tornaria, ao mesmo tempo, célebre e polêmica: “vê-se computadores em toda parte, menos nas estatísticas de produtividade”.
A provocação, que ficou conhecida como o Paradoxo de Solow, obteve ampla repercussão e precipitou várias análises sobre a correlação negativa entre a visão macroeconômica da queda de produtividade ocorrida no final dos anos 80 e os crescentes investimentos em tecnologias digitais, que já eram altos e desde então só aumentaram.
O fato é que de lá para cá tornou-se praticamente insustentável o argumento de que tal esforço econômico não resulte em maior produtividade ou em diferenciação competitiva. Ao contrário, são raros, senão inexistentes, balanços de empresas líderes que deixem de lado a transformação digital e cultural dentre os seus principais eixos estratégicos.
Bem mais que isso, a combinação da internet com a computação transformou o mundo de forma estrondosa, impactando a forma como vivemos, nos relacionamos e fazemos negócios. Novos modelos emergiram e levaram ao topo empresas que sequer existiam nos anos 1980. O destaque é que essas novas organizações campeãs são todas, invariavelmente, de base tecnológica e orientadas a clientes conectados em redes digitais.
Por isso, não há motivos para acreditar que as menções aos investimentos em inovação, em startups e na construção de ecossistemas nos balanços sejam meramente alegóricas, declarações que intencionariam tão somente transmitir a imagem de “empresa alinhada às tendências”. Ao contrário, tudo indica que, efetivamente, os movimentos para a transformação digital e cultural influenciam de forma positiva nos resultados de virtualmente todos os negócios.
Recentemente, no Brasil, bancos convencionais como Itaú e BTG Pactual apresentaram resultados do primeiro trimestre do ano bem acima da linha dos competidores diretos. Ambos expressaram a importância da inovação para o crescimento averiguado, e ambos concordaram sobre a importância da centralidade do cliente, dos investimentos em transformação digital e cultural, com atenção especial aos “talentos, tecnologias, canais digitais, produtos inovadores, parcerias, M&A, Joint Venture e Corporate Venture Capital”. Já o Nubank, que atende 46% da população adulta do Brasil e alcançou resultado recorde nesse mesmo trimestre, já nasceu sob os ditames da nova economia. Não é por acaso o seu crescimento vertiginoso.
A esta altura, o consenso em torno das vantagens competitivas proporcionadas pelos investimentos em tecnologia parece indiscutível. Ninguém duvida mais disso e, para o bem ou para o mal, o Paradoxo de Solow ficou no passado. Não se trata mais apenas da computação. Hoje a questão se tornou bem mais ampla, bem mais complexa, e vem sendo executada em várias dimensões interdependentes.
Aqueles, como nós, que se dedicam de corpo e alma a apoiar empresas tradicionais na estruturação dos seus acessos, geração e extração de valor da nova economia, precisamos atuar orientados pela arte da orquestração de esforços que combinam diversos públicos das próprias empresas e dos ecossistemas de inovação, as suas capabilities, tecnologias, parcerias, venture capital, tudo isso sob o manto atento da gestão de riscos.
Temos observado de forma cada vez mais recorrente empresas que assimilaram a importância de investir não somente na atualização tecnológica, mas no conjunto orquestrado de dimensões, e poucos anos depois apresentarem resultados que indicam “descolamentos estruturais” dos pares concorrenciais diretos.
Hoje vemos o crescimento acelerado do número de iniciativas de Corporate Venture Capital, que revela a percepção pelas empresas dos benefícios dos investimentos na direção que aqui apontamos. Em 2022, pelo menos doze empresas de capital aberto lançaram seus programas de CVC, com um valor somado para investimento em startups de R$ 3,04 bilhões. Isso é 4,3 vezes o número de 2019, e representa um crescimento de 62,5% sobre 2021.
No fundo, acreditamos, se trata mais do tamanho da ambição das empresas: prosseguir na marcha de atualização, com a expectativa de manutenção da atual posição competitiva; ou, mergulhar em direção à nova economia com investimento vigoroso, com gestão de risco sofisticada e com disposição para ocupar uma nova posição no mercado.
No fim, tudo parece indicar que, embora a questão da produtividade prossiga desafiadora, o Paradoxo de Solow ficou na história ao lado dos céticos e dos menos ambiciosos. Empresas que se lançaram na direção aberta pela computação venceram de forma espetacular.